Tentavam seguir em frente. Ele se entregava a outras mulheres, bebia e fazia qualquer coisa que o distraísse daquela sensação de estar fazendo tudo errado. Ela ria de piadas que não via a mínima graça e retribuía o flerte de todos aqueles garotos, tudo para não deixar a saudade tomá-la.
Os amigos dele diziam que ela era uma vadia, que não prestava e não gostava dele. Os amigos dela diziam que ele não lhe dava o devido valor, que ele era um canalha e não gostava dela. E eles escutavam, mas a opinião dos outros nunca lhes importou.
E negavam que havia algum sentimento, que havia qualquer ínfima chance de voltarem a ficar juntos. Tinha acabado e isso era tudo que importava!
E diziam isso porque eles mesmos queriam acreditar nas mentiras que contavam.
Porque toda noite, quando o brilho e a festa se desfaziam a volta deles, deitavam-se e a consciência da verdade os invadia. Ele queria abraçar o corpo dela na cama, ela queria que ele a envolvesse protetoramente; ele queria ouvir a risada dela, ela queria que ele a fizesse rir.
Na ultima noite o telefone pesou mais do que nunca, a vontade de ligar cada vez maior.
E quantas vezes eles não quiseram ligar e dizer alguma coisa - qualquer coisa! Ou só ouvir a voz do outro lado da linha. Quantas vezes eles não começaram a discar sem jamais apertar o botão "ligar". E quantas vezes fingiram que aquele momento de indecisão não existiu, viraram para o lado e dormiram ignorando a vontade de fazer algo, de dizer algo, doendo-lhes a fundo.
E assim os dias passavam e continuariam passando, até que aquele sexo falsamente casual que faziam fosse perturbador demais, até que as coisas subentendidas fossem insuficientes e eles finalmente confessassem as palavras presas na garganta, até que nem todo o orgulho do mundo fosse suficiente para impedi-los.
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