Supernova



 Parte I - Passado


Ele andava sem rumo por uma estrada que parecia infinita. O ar frio da madrugada gelava até seus ossos enquanto ele seguia obstinadamente em frente, numa tentativa desesperada de desprender seus pensamentos dos demônios que tanto tentava deixar para trás.
Mas era só passado ─ ele estava seguindo em frente.
Ouviu um rugido de motor antes de sentir os faróis às suas costas. Não olhou para trás, queria permanecer impassível. O veículo ─ era uma velharia azul ─ diminuiu a velocidade ao lado dele, as janelas abaixadas revelavam a bela motorista inclinada sobre o banco do passageiro. 
 ─ Quer uma carona? ─ ofereceu.
 Ele continuou andando, mas sentiu-se tentado a aceitar. Queria ir, mas não devia. Não era certo, não era prudente, não era são e, principalmente, não era seguro 
─ Vamos ─ ela insistiu sedutoramente ─ Te levo onde estiver indo.
─ Não estou indo a um lugar específico ─ respondeu friamente. 
─ Então não fará mal algum você vir comigo, certo? 
Ele não queria ceder. Mas estava realmente muito frio.
E ela era linda. 
Entrou no carro repreendendo-se em silêncio. Que merda estava fazendo? Respirou fundo, tinha que manter o controle. Tentou focar a atenção na estrada, mas era difícil não olhar para ela: tão envolvida pela música que dava gosto de vê-la cantando baixinho.
O polegar direito batendo no volante ao ritmo da música, o cotovelo esquerdo apoiado na porta com os dedos entrelaçados ao cabelo, segurando mechas castanhas avermelhadas. Vista assim, parecia uma menina doce e romântica.
Visto assim, ele parecia admirar uma divindade. Ele respirou fundo e apoiou a cabeça no vidro, ao perceber como agia. Queria ser forte. Controlado. Olhou para o céu noturno e estrelado em busca de algum sinal, qualquer que fosse. Envolvido pela voz dela, desejou que de algum modo tudo aquilo fizesse algum sentido, desejou saber em que deveria acreditar. 
Ele era assim: cheio de dúvidas. Era na verdade, uma criança de cinco anos agindo como se fosse adulta por que tinha medo do mundo, tinha medo de crescer, medo de se decepcionar, medo de sentir, medo de... medo de tudo e de todos. Uma criança desconfiada. Tentava controlar o mundo para que ninguém fosse capaz de machucá-lo. Erguia muros ─ fortaleza seria um termo mais adequado­ ─ para manter-se seguro. E veja onde estava agora. 

Continua....

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